Por Antônio
de Salvo Carriço
A proposta
desta apresentação é analisar as relações de trabalho em padarias a partir do
foco sobre o esforço. Procurarei mostrar como, ao dizer respeito tanto ao
caráter degradante da jornada de trabalho quanto às apropriações positivas que
o tornam um valor no discurso e na prática desses trabalhadores, o esforço se
conforma em um eixo estruturante dessas relações. Trata-se de um prosseguimento
do que foi apresentado em congressos anteriores (na 29ª RBA e no XI Congreso
Argentino de Antropologia Social), onde discuti as configurações hierárquicas
entre os funcionários dos balcões de padaria. O que até então estava baseado em
uma rotina de interações do pesquisador com balconistas será agora
complementado por experiências que o próprio pesquisador obteve de trabalhar em
padarias. Desta forma, serão tratados aspectos relativos à jornada de trabalho
desde uma ótica do seu cotidiano, procurando expor e analisar o que poderíamos
chamar de exploração ou mais-valia desde esse contexto do trabalho diário e de
alguma convivência e participação com trabalhadores que têm aí sua rotina. O
tema da valorização individual por meio de uma persistência e capacidade para
suportar um trabalho pesado será retomado aqui, no contexto da produção da
padaria, de modo a complementar o que havia sido apresentado em relação ao
trabalho no balcão. Proponho discutir, através da descrição de determinadas
situações e fatores que compõem esse quadro de relações, a reprodução de uma
ética do esforço e do sacrifício e sua incorporação às práticas e às
subjetividades dessas pessoas.
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